Quais os desafios de ser jovem negro(a) no Brasil?

Autor: Bruna Ribeiro Data da postagem: 11:45 12/08/2022 Visualizacões: 487
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Foto de 3 jovens que participam do Programa Prosseguir, do CEERT. O desafio de ser jovem negre no Brasil?

 Potência, engajamento, aquilombamento, fortalecimento, afeto, acolhimento, futuro e família. Esss são palavras que sintetizam as alegrias de ser um jovem no Brasil, no entendimento de Luana, Laura e Igor, três estudantes negros participantes do Programa Prosseguir, iniciativa que visa a permanência de jovens negros e negras na universidade.

As palavras surgiram após reflexões em relação à pergunta: quais são os desafios e as alegrias de ser um jovem negro no Brasil? No Dia Internacional da Juventude, celebrado em 12 de agosto, o trio falou da potência, mas também das dificuldades, trazendo para a discussão temas como racismo, sexismo, desigualdade social e falta de oportunidades. 

 

Confira os depoimentos completos:

 

Luana Ortiz Silva, 22 anos, participante do Prosseguir, pelo segundo ano. Cursa o 8º semestre de Ciências Sociais, na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH - USP)

“Os desafios e as alegrias de ser um jovem no Brasil são diversos. Acredito que o principal desafio de ser uma jovem mulher negra periférica no Brasil é enfrentar o racismo, o sexismo e o elitismo diariamente. A intersecção entre estes diferentes eixos de opressão fez com que minha trajetória fosse repleta de obstáculos como a falta de recursos financeiros para estudar nas melhores escolas, os casos de racismo e machismo que enfrentei quando entrei na universidade e a falta de oportunidades no mercado de trabalho. 

Acredito que, de modo geral, a falta de oportunidades é o principal desafio enfrentado pela juventude negra atualmente. Faltam oportunidades no setor educacional, no mercado de trabalho e também para o desenvolvimento pessoal - tudo isso devido ao racismo e ao desfavorável cenário econômico enfrentado pela  população negra brasileira que é a que mais tem sofrido com o agravamento da pobreza no Brasil no último ano, segundo um levantamento realizado pelo Instituto Mobilidade e desenvolvimento social (Imds), em 2022. 

Diante disso, é importante ressaltar que a melhoria no acesso à educação, saúde, alimentação, moradia, trabalho e lazer para juventude negra é fundamental para seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Já no que se refere às alegrias de ser uma  jovem negra no Brasil, acredito que a principal delas é a possibilidade de conviver com outras pessoas negras que vivem realidades semelhantes à minha, compartilhando vivências e experiências. No Brasil, temos uma juventude negra muito potente e engajada, tocando projetos culturais e sociais diversos que visam este “aquilombamento” da população negra brasileira, sobretudo, da população negra jovem. 

Por ser uma mulher negra, eu sempre busco acessar estes espaços, pois para mim, são espaços de fortalecimento, de acolhimento e de troca de afeto. Por fim, acredito que a possibilidade de conhecer e participar de projetos sociais voltados para o oferecimento de oportunidades para população negra e de baixa renda também é uma das grandes alegrias de ser uma jovem negra brasileira, pois graças a projetos como estes eu pude conquistar meu lugar e permanecer na universidade.”

 

Laura Alves dos Santos, 22 anos, participante do Prosseguir, pelo segundo ano. Cursa o oitavo semestre de Engenharia de Minas, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).

 

“Os desafios e as alegrias de ser jovem no Brasil são: encarar a realidade de pessoas iguais a mim, tendo uma vida com inúmeros atravessamentos por conta de um sistema racista e desigual. 

Estar em um curso elitista , machista e branco, torna a vivência mais cansativa. Sinto que preciso sempre fazer mais do que os outros, mas ainda assim, me vejo na área e é onde quero estar e também quero incentivar outras mulheres pretas a estarem nesse ambiente.

Ser uma jovem negra no Brasil é também encontrar potência e determinação do povo brasileiro que enxerga o futuro como uma oportunidade de algo melhor. Tendo essa crença em um futuro com boas mudanças, penso no meu presente para colher frutos futuros.

Pratico exercício físico, faço leituras e tento cuidar da minha saúde mental para fortalecer corpo e mente e valorizo meus estudos. Estar na universidade me permite enxergar meu profissional como uma conquista e a cada dia eu percebo que é com ela que vou conseguir alcançar meus objetivos de vida!

 

Igor Antonio Tavares, 27 anos e participante do Prosseguir há 6 meses. Cursa o 5° semestre de Medicina, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

 

 

“Os desafios e as alegrias de ser um jovem no Brasil são muitos. Apesar disso, também temos a possibilidade de dias melhores e, principalmente, de sonhar em dias ainda melhores para as gerações futuras.

Sobre as dificuldades, sou oriundo de uma família que viveu em condições análogas à escravidão há três gerações. Esse é um dos meus maiores desafios. Principalmente, por ter de lidar com as questões raciais e trazer à memória o fato de que o meu avô (sobre)viveu em uma conjuntura tão desumana.

Apesar disso, tenho a felicidade de ser incentivado pelos meus familiares a desbravar lugares que, devido ao contexto histórico imposto, eles não puderam alcançar. Concomitantemente a isso, levo comigo a graça e, sobretudo, a responsabilidade de facilitar, encorajar e incentivar jovens de origem socioeconômica próximas da minha a ocuparem os espaços que eu estou ocupando.”

 

Sobre o Prosseguir

Realizado pelo CEERT, o Programa Prosseguir tem como finalidade evidenciar e desenvolver futuras lideranças negras que estão nas universidade públicas e privadas das regiões metropolitanas de São Paulo e Salvador e Rio de Janeiro, por meio de estratégias de fortalecimento e permanência acadêmica, além de estabelecer diálogos e pontes com o mercado de trabalho.

O programa oferece apoio financeiro, letramento racial, curso de inglês, apoio para elaboração de projetos de vida e acompanhamento para inserção qualificada no mundo do trabalho. Criado em 2019, o programa tem duração de um ano e em suas quatro edições até o momento já ofereceu 292 bolsas para jovens negros e negras.

Saiba mais sobre a iniciativa neste link.

 

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