Catu - Capacitação e Apoio ao Trabalho Unificado

Autor: Bruna Ribeiro Data da postagem: 14:04 15/06/2022 Visualizacões: 127
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Maria Teresa dos Santos

"Meu sonho é que não exista cárcere. Sou abolicionista penal. A prisão não cumpre a razão social para a qual ela foi criada. Prender pessoas não dá à sociedade a segurança que ela precisa e merece”, diz Maria Teresa dos Santos, de Contagem (MG). Maria Teresa é autora do projeto “Catu - Capacitação e Apoio ao Trabalho Unificado”, um dos selecionados pela Chamada Pública Reintegrar.

A Chamada Pública “ReIntegrar com equidade de raça e gênero para egressos do sistema carcerário” surgiu com o objetivo de mapear, catalogar e valorizar projetos e estudos que objetivem vida digna para pessoas que cumpriram pena no sistema carcerário por meio do trabalho, a partir da perspectiva de equidade racial e de gênero. 

Realizada pelo CEERT, a iniciativa recebeu  470 inscrições das cinco regiões do Brasil. Foram selecionados três projetos (R$ 30 mil para cada) e cinco estudos (R$ 10 mil para cada), totalizando o investimento de R$140.0000,00 (cento e quarenta mil reais). 

Conversamos com os oito selecionados a respeito de seus estudos e projetos. Publicaremos um depoimento por semana nesta série especial. Confira o sexto relato, de Maria Teresa dos Santos, de Contagem (MG), responsável pelo projeto Catu - Capacitação e Apoio ao Trabalho Unificado:

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Depoimento de Maria Teresa dos Santos:

“A ideia do projeto surgiu a partir da dificuldade que os sobreviventes do cárcere enfrentam para conseguir um trabalho. Primeiramente pelo preconceito por serem egressos do sistema prisional, mas também pela falta de informação e qualificação. 

O objetivo do nosso projeto é oferecer apoio integral às pessoas sobreviventes do cárcere, jovens egressos de medidas socioeducativas, sobreviventes LGBTQIA + e familiares de pessoas em privação de liberdade. O apoio passa pela escuta individualizada das demandas, inclusão digital, formação profissional para a empregabilidade formal e geração de renda de forma autônoma (empreendedorismo). 

Também há encaminhamento para atendimento psicológico e demais ações socioassistenciais necessárias, como doação de cesta básica, vestuário, assistência jurídica e acesso a políticas públicas de saúde e educação. O projeto terá encontros individuais e com pequenos grupos, de forma presencial e online, de acordo com as possibilidades e necessidades das pessoas participantes. 

Também pretendemos implementar um trabalho ativo de captação e sensibilização das empresas para que possam absorver essas pessoas em seu quadro de pessoal. E essas empresas serão acompanhadas para que possam favorecer a permanência de forma saudável das pessoas sobreviventes do cárcere que estiverem trabalhando.

Com o prêmio, será possível viabilizar uma estrutura física para o projeto. Como um dos principais desafios para pessoas em situação de vulnerabilidade é o deslocamento até o local das atividades, o dinheiro da premiação também será usado para as passagens.

Também será possível remunerar um profissional que fará o trabalho de busca ativa de empresas e vagas de trabalho para as pessoas participantes do projeto, além de outros profissionais com a experiência necessária para a realização de um trabalho de qualidade e transformador da realidade das pessoas sobreviventes do cárcere.  

Esse edital é importantíssimo, pois os sobreviventes do cárcere nunca são lembrados e esse público precisa que alguém estenda a mão para eles conseguirem se reerguer quando deixam a prisão. Sozinhos eles não conseguem acessar  o mercado formal de trabalho.

Meu filho trabalhava de carteira assinada quando foi preso. No cárcere, ele foi mandado embora por abandono de emprego, mesmo a empresa tendo sido notificada de que ele permaneceria na prisão.

Um ano e dois meses depois, quando ele ganhou a liberdade, não conseguia se firmar no trabalho, pois era demitido sempre que descobriram que ele era egresso do sistema prisional.

Meu sonho é que não exista cárcere. Sou abolicionista penal. A prisão não cumpre a razão social para a qual ela foi criada. Prender pessoas não dá à sociedade a segurança que ela precisa e merece.

Os governantes precisam investir pesado na educação da primeira infância e na qualificação profissional dos jovens das periferias, impedindo assim que eles cheguem ao cárcere. Precisamos socializar a moçada em vez de encarcerar para depois ressocializar - algo que não acontece. 

A justiça que todos dizem ser cega, na verdade enxerga os jovens negros e periféricos para ocupar as prisões. Ela não julga o jovem da periferia da mesma forma que julga o jovem dos bairros nobres. Para a periferia, a prisão. Para o bairro nobre, penas alternativas. Para mulheres e pessoas LBGTQIA+, é pior ainda. A homofobia na prisão leva ao suicídio e as mulheres são violentadas psicológicamente o tempo todo, sem contar a falta de produtos de higiene pessoal. 

É melhor investir em educação do que gastar com prisão. Se educar não prende. Precisamos encontrar uma forma de responsabilizar as pessoas que cometem crimes que não seja a pena privativa de liberdade. O caminho para isso é educar com qualidade e capacitar para o mercado de trabalho

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