A educação, vista pelo movimento negro como fator fundamental de emancipação da população negra, é alvo de diferentes estratégias e ações da luta antirracista.
Os percursos das lutas antirracistas possibilitam ao longo dos anos traçar novas perspectivas de conhecimento, de políticas, de saberes e vivências que refletem nos sujeitos e nos diversos espaços da sociedade, inclusive na educação.
Em 2003 foi implementada a Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas, bem como a educação das relações étnico-raciais, um marco na luta dos movimentos sociais. Passados 19 anos da aprovação da Lei 10.639/03, os obstáculos à sua execução na sala de aula são apontados por professores a partir da dificuldade de encontrar materiais didáticos especializados, falta de formação ou a própria estrutura da escola.
No entanto, a pesquisa de doutorado em História social intitulada Práticas pedagógicas transgressoras: possibilidades para uma educação antirracista a partir do Prêmio Educar Para a Igualdade Racial (CEERT), defendida pela professora Maíra Pires Andrade na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), aborda que no lado oposto desse panorama de dificuldades, existe a constituição do acervo de referência de práticas pedagógicas antirracistas, selecionadas a partir do Prêmio Educar para a Igualdade Racial organizado pelo CEERT desde 2002.
A existência desse acervo, que reúne aproximadamente 2.300 práticas pedagógicas executadas em sala de aula, demonstra as possibilidades concretas de efetivação de práticas antirracistas no espaço escolar e ainda nos indica como é possível realizar boas experiências.
O acervo de práticas pedagógicas disponível online no site do CEERT se torna a partir das análises um importante instrumento para divulgação e multiplicação de referências, conceitos, metodologias e atividades que podem ser realizadas em outros contextos na esteira de uma educação antirracista e democrática.
Partindo da análise das práticas pedagógicas finalistas e vencedoras, a pesquisadora identificou estratégias pedagógicas contidas no Prêmio Educar para Igualdade Racial, que podem ser utilizadas e replicadas em sala de aula.
Aos professores, sobretudo da Educação Básica, que no decorrer de sua trajetória possuem dificuldades de implementar a educação antirracista, torna-se importante apresentar aqui formas de ações e estratégias que podem ser usadas e adaptadas em suas aulas, retiradas das práticas do Prêmio.
Estratégias pedagógicas do Prêmio Educar para Igualdade Racial
CEERT e os movimentos sociais
Para além da análise das práticas do Prêmio, a pesquisa de doutorado também tratou da história da formação do CEERT na década de 1990 a partir de entrevistas com a professora Cida Bento e demais consultores e pareceristas do Prêmio.
A partir das contribuições do Prêmio e do CEERT no âmbito da prática em sala de aula, a pesquisadora concluiu em sua tese que ambos se configuram como uma das diversas articulações e ações dos negros e negras em movimento, em favor da sua emancipação e de seus direitos, sobretudo na medida em que é um prêmio pensado para a área de educação, mas que se articula a uma política de ajustes de contas com a memória e com o racismo estrutural.
A pesquisadora ainda evidenciou que a história do CEERT se entrelaça com a história dos movimentos sociais no Brasil, do antirracismo e da história da educação. A constituição do acervo do prêmio caminha na direção de marcar e delinear os contornos dessa história e o registro das lutas dos movimentos sociais.
Maíra Pires Andrade é Doutora em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em História do Tempo Presente e graduada em História (licenciatura e bacharelado) pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Atualmente é pesquisadora do Centro de Estudos Culturais e da Diáspora (CECAFRO), membro do Núcleo de Educação Étnico Racial/SME e professora de educação básica do Colégio Mercedário Nossa Sra. das Mercês. E-mail para contato: mairaandradep29@gmail.com
Tese de doutorado defendida em 11 de março de 2022.