Mulheres negras e representatividade política

Autor: Giselle dos Anjos Santos e Mário Rogério Silva Data da postagem: 14:59 28/07/2022 Visualizacões: 246
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Crédito: Equipe de Arte/CEERT

 Apenas 2,36% das cadeiras do Congresso Nacional são ocupadas por mulheres negras. No entanto, esse grupo representa o maior conjunto demográfico do país — 28,4% segundo a PNAD Contínua do primeiro trimestre de 2022.

No artigo "Julho das Pretas: Para mais justiça e equidade, é preciso mais representatividade", Giselle dos Anjos Santos, pesquisadora do CEERT, e Mário Rogério Silva, diretor do CEERT responsável pelo programa Censos de Diversidade, refletem sobre a falta de representação política das mulheres negras.

Os autores tecem a análise a partir de dois setores: o trabalho doméstico e a política institucional.

E mostram que a "concentração de mulheres negras no trabalho doméstico é um fenômeno histórico diretamente ligado à herança escravista, fruto do caráter estrutural da intersecção entre as opressões de gênero, classe e raça no Brasil", explicam.

Esse setor, já precarizado anteriormente, foi um dos mais afetados no contexto da pandemia. De acordo com pesquisa do CEERT desenvolvida com base nos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) referente ao primeiro trimestre de 2022, o Brasil tem um total estimado de 5,608 milhões pessoas ocupadas em serviços domésticos (correspondendo a 5,9% do total de ocupadas do país). 

As mulheres negras representam a maioria delas (60,8%), seguidas das mulheres brancas (30,8%). Juntas, as mulheres representam 91,6% do total.

Do conjunto de trabalhadoras/es do setor, apenas 25% possuem carteira assinada —ou seja, 75% se encontram na informalidade. E quando olhamos mais detalhadamente para essa parcela em condição de precariedade laboral, percebemos uma participação ainda mais elevada de mulheres negras: 76,9% delas não possuem carteira assinada.

É por este motivo que precisamos mudar a cara da política institucional do nosso país. Afinal, enquanto as mulheres negras representam o maior grupo demográfico do país —28,4% segundo a PNAD Contínua do primeiro trimestre de 2022— e são a maioria nos postos mais precarizados (como o trabalho doméstico), representam a minoria nos espaços de decisão política, ocupando apenas 2,36% das cadeiras do Congresso Nacional.

De acordo com os autores, a subrepresentação tem consequências concretas, tais como a total  desconexão entre a realidade vivida pela maioria do povo brasileiro e os interesses representados pelo sistema político atual. 

"A eleição de mais mulheres negras para os parlamentos tem o potencial de transformar a política por meio da priorização de pautas efetivamente implicadas com a justiça social e a equidade, beneficiando todas as pessoas, mas, especialmente, as mais vulneráveis. Como disse Angela Davis, 'quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela'", afirmam.

 O artigo foi publicado no jornal Folha de S. Paulo no dia 26 de julho de 2022, na coluna "Desigualdades", editada por Maria Brant, coordenadora executiva da Rede ABCD (Ação Brasileira de Combate às Desigualdades".

A coluna examina as várias desigualdades que afetam o Brasil e as políticas que as fazem persistir.

Para ler o artigo completo, acesse o link da Folha de S. Paulo.

 

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