Convidados a expressar o que sentiam quando estudavam livros didáticos enviados pelo governo para as escolas de todo o Brasil, os alunos indígenas do curso normal em nível médio revelaram o desconforto de serem retratados como inferiores, selvagens, primitivos, pertencentes ao passado e sem direito à aquisição de tecnologia. Este desconforto os envolveu a ponto de “construírem com as próprias mãos” os livros que realmente os faziam se reencontrar como sociedade indígena, pois estas obras retratam o que eles vivem, sentem, pensam. Portanto, o principal objetivo foi a elaboração de obras didáticas que despertassem a curiosidade e o interesse da comunidade Kadiwéu.
40 horas-aula de atividades. Os temas seguiram os eixos propostos para cada série inicial do ensino fundamental: aldeia, território indígena, município e estado. A abordagem seguiu os princípios de especificidade, interculturalidade, bilingüismo, diferenciação e respeito pela cultura indígena Kadiwéu. Pesquisa participante, coleta de dados em campo, leitura, elaboração de textos e desenhos, tradução do material. Os alunos do curso normal em nível médio, que também são professores da escola indígena, realizaram “testes” em suas aulas, a fim de verificar a pertinência dos conteúdos em relação a cada série. Desse modo, puderam efetuar mudanças e revisões. Para tanto, contou-se com a colaboração de idosos (“guardiões” da memória social Kadiwéu), líderes indígenas, pais, mães e outros parentes dos alunos, além da coordenação pedagógica do Curso Normal e da Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Lazer de Porto Murtinho.
• Apresentação de livros elaborados por indígenas de outras etnias. • Os alunos relataram ter chamado atenção, dentre as várias obras apresentadas, um livro produzido por índios do Xingu que abordava a questão do negro. Isso os estimulou a produzir obra semelhante, abordando a questão indígena.
Auto-estima elevada, valorização da própria cultura, respeito pela diversidade. Combatendo os estereótipos que geram preconceitos e discriminação, a postura dos alunos mudou tanto na prática da pesquisa, quanto no entendimento de que um trabalho coletivo é possível. E que este trabalho facilita a luta por um objetivo comum: o combate à discriminação e aos preconceitos. A realização do projeto permitiu enxergar o Brasil como um País pluriétnico, culturalmente diverso. Apostar na produção local de professores e pesquisadores da sua própria cultura e de outras.
Profº. José Luiz de Souza
Profº. Giovani José da Silva
Profª. Vânia Perrotti da Costa Pires
